Estou longe do meu Pico. Há semanas. E bem longos têm sido estes dias...
Nada me falta, nem o carinho amigo dos filhos e familiares, nem o ambiente acolhedor da Terra que também tem seus encantos dispersos por montes e vales verdejantes, e maravilhosamente floridos apesar da época invernosa que se atravessa.
E quando o Sol aparece, há um rejuvenescimento da Natureza que encanta e de certo modo ameniza o que nos fica das intempéries que também abundam.
Na verdade é um encanto esta ilha, onde o Vale das Furnas, a Cratera das Sete Cidades, os montes e cordilheiras, com predominância para o Pico da Vara, as paisagens que se descobrem de qualquer ângulo e nos deslumbram, todo esse conjunto de belo e maravilhoso que a ilha nos oferece são um regalo para o espírito e um conforto para esta ausência que não é longa mas que vai deixando, mesmo assim e aos poucos, suas quezílias.
Apesar de tudo vale a pena por aqui passar, contactar o seu povo gentil e acolhedor, conviver com os familiares e com as pessoas amigas e conhecidas, que todas são de trato amistoso e gentil.
Mas, falta-me o Pico. Aquela Montanha soberba que todas as manhãs espreito pela janela da minha moradia e vejo, ora com seu manto de nuvens, ou de carapuça branca, alva e brilhante onde o Sol se espelha na neve que caiu durante a noite, ou até mesmo, em dias de tempo duvidoso, a anunciar a tempestade que se aproxima.
Esse Pico altaneiro que encanta as ilhas que lhe ficam à ilharga, dele escreveu, Raul Brandão.: “O Pico é a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores, duma beleza que só a ela lhe pertence, duma cor admirável e com um extraordinário poder de atracção. É mais que uma ilha – é uma estatua erguida até ao céu e moldada pelo fogo – é outro Adamastor como o do cabo das Tormentas.” (in “Ilhas Desconhecidas”pág.105/6)
Mas não apenas o grande escritor se referiu à ilha - montanha, a mais alta de Portugal. Maria Ernestina Avelar (no poema O MEU PICO, sua pequena Pátria, no dizer de outro festejado Poeta, Osório Goulart,) em quadras simples mas por vezes úberes de tamanha beleza popular: Pico, meu Pico/ eis-te agora / como eu gosto de te ver, / sem tristes véus a erguer! / (...) assim imponente / que graça tens a ostentar, / quando a luz do sol poente / vem tua fronte dourar!... (...) Como eu te invejo, enlevada, / teu véu de ouro cobrir! / que linda cinta nevada / vem o teu colo cingir!” E a terminar: “Oh Pico, Pico, nessa hora / que belo assim tu és então!... /
Mas quem não te vê agora com maior admiração?!
O erudito Mestre das Ciências e da Cultura, que também inspirado Poeta é, o Doutor José Enes, dedicou ao seu e nosso Pico um belo Poema, no qual canta a Ilha: Montanha do meu segredo / Montanha do meu destino / Tocas-me com um dedo / Imprimindo em mim um signo / Quando me viste nascer.”
E só mais esta citação de Arthur Ávila, em “Rimas de um Imigrante”: Hino aos Açores: ... Ergue-se o Pico altaneiro / - sentinela vigilante – vigiando a todo o instante / os seus canteiros de flores / a boiar no oceano / e olhando as outras ilhas / como sendo suas filhas / é bem o pai dos Açores”.
Há bastante tempo houve alguém que pretendeu mudar-lhe o nome. Surgiu então uma série de quadras populares, de autores diversos, uma das quais assim diz. “ ó Pico que és Pico / Ó Pico que já não és. / O Pico que vás ser Infante / da cabeça até aos pés” Mas não foi!
A Montanha do Pico, que acaba de ser classificada como uma das sete maravilhas da Natureza, em Portugal, causa surpresa e encanto a quantos visitam a ilha. E muitos são os que a desejam subir para contemplar, lá do alto – 2531 metros – todas as outras irmãs que a rodeiam, e por vezes até São Miguel, com excepção de Santa Maria, Flores e Corvo.
É um marco orientador e seguro para toda os navegantes. E tanto assim que, após a guerra de 1939-45, toda a navegação turística, principalmente, que ia ou vinha da América do Norte ou até mesmo da Central, costeava a Baía das Lajes para que os passageiros pudessem admirar a ilha e a Montanha. Hoje a navegação toma outras rotas e raramente um barco passa pelo Sul da Ilha. Mas, aqui de tão distante, não esqueço a minha terra, modesta, por vezes esquecida, vítima dos vulcões e das tempestades marítimas onde apenas as baleias a visitam e, felizmente, atraem alguns apaixonados pelos desportos marítimos, não fosse a baía das Lajes o SANTUÁRIO DAS BALEIAS, como já a classificam.
Pico dos meus encantos!
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